domingo, 31 de outubro de 2010

"Poderia até pensar que foi tudo sonho..."

Começou assim, de repente, na virada de 2006 pra 2007. Eu cheguei em Recife. Estava bestificada com a cidade mas me lembro de passar pelo Marco Zero e ler em algum muro um cartaz enorme anunciando o show da virada com Los Hermanos. Aí tive um momento de lucidez, eu sabia queria ir ao show. Os dias se passaram e acabei tendo que cumprir algumas obrigações familiares. Então veio o telefonema, que poderia ter mudado tudo. Era uma tentativa de me pegar pela mão e me levar pra ver o show. Como a comunicação nessas horas é quase impossível, eu continuei com as minhas obrigações com as pessoas da família... horas depois do show, ouvi vários comentários sobre como tinha sido bom, que músicas tocaram, que tinha muita gente... vez ou outra meu primo cantava sem nem preceber: "Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz..." e eu ficava com uma agoniazinha por dentro, só na vontade de ter estado lá, de ter vivido aquilo.

Voltei pra casa. Cada vez mais ia me aproximando e conhecendo mais de perto cada música, cada história e me identificava mais e mais com o que via e ouvia. Conhecia a banda há um certo tempo, mas não tinha sentido aquele estalo que temos quando alguma coisa é realmente boa e nos soa familiar, ao ponto de conseguirmos fazer nossas as palavras do outro. Me apaixonei completamente pela banda, pelas músicas, por cada integrante, por cada movimento deles... Me interei de tudo o que eles tinham feito e me sentia pronta pra falar sobre tudo a respeito deles e de suas músicas, pra me declarar parte integrante daquela estrutura formada por todos aqueles que se identificavam com a banda.

Quando isso aconteceu, exatos seis meses depois de ter perdido o show no Marco Zero, sai a notícia de que a banda iria entrar em recesso por tempo indeterminado. Como despedida, fariam 2 shows, que virariam cd e dvd. E eu fiquei estática, decepcionada, desiludida e imensamente frustrada. Não pude ir aos shows de despedida, perdi todas as oportunidades imediatas e futuras de vê-los de perto.

Continuei tentando saber sobre eles, sobre músicas inéditas, sobre outros projetos. Descobri vídeos, músicas, blogs, entrevistas, muita coisa recente, mas antigo, ao mesmo tempo, já que a banda tinha acabado. E o jeito foi levar assim. Pensei que com o tempo eu fosse encontrar outras coisas que me interessassem da mesma forma, que me ocupasse a cabeça da mesma forma, que me fizesse sentir as mesmas coisas ou coisas ainda maiores e melhores (eu quero sempre mais!) mas nada tão forte me apareceu, nada fazia tanto sentido.

Quase dois anos depois do recesso saiu a notícia de que eles iriam abrir o show do Radiohead. Mais uma vez, não pude ir. Outra oportunidade perdida. O pior era ler sobre o show, sobre os fãs que foram ali somente pra vê-los. Rodrigo amarante contou Cher Antoine! Zeca Camargo escreveu sobre esse show, sobre a devoção dos fãs. Bruno escreveu sobre como foi voltar a tocar com o grupo e como foi ver o Radiohead tão de perto... E eu aqui, "sentada à beira do caminho"...

Nesse meio tempo, os caras já faziam outras coisas individualmente. Marcelo lançou um disco super triste, num conceito geral, mas que continha a música mais doce e apaixonada que poderia haver: "Janta", cantando com Malu Magalhães (depois descobriu-se que a música era sobre ela e pra ela). Bruno estava tocando pra Adriana Calcanhoto e escrevendo frequentemente no seu blog. Barba também tocava com amigos. Finalmente Amarante deu ar da graça, com uma banda nova - Little Joy, em parceria com o baterista dos Strokes, com um som tão alegre, tão vivo... Rodrigo sempre parece estar em dias ensolarados, diferente de Marcelo, que parece estar sempre triste... O little joy me ganhou logo na primeira música. O que eu pude pensar vendo tudo isso acontecer, é que não haveria uma volta breve. Ficou claro quem levava a banda pra que lado e o recesso foi mais do que justificado e compreendido. Imagino que não seja assim tão simples a convivência de tantas cabeças tão ativas pra coisas tão diferentes. Ser intenso individualmente já é tão difícil, quem dirá o que é conviver com a intensidade dos outros? É como se houvesse um conflito constante de energias - o que é ensolarado e tão claro e brilhante("...deixa ser como será, quando a gente se encontrar, no pé o céu de um parque a nos testemunhar..."), brigando o tempo todo com o que é sentimental, introspectivo, pessimista, depressivo, de uma realidade incrivelmente dolorosa e, por isso mesmo, familiar ao ouvinte (a própria Ana Júlia já começa sofrendo: "Quem te vê passar assim por mim, não sabe o que é sofrer..." e quem nunca sentiu um nó na garganta com "Sapato Novo" pode atirar todas as pedras que quiser). Penso que seja essa mistura que equilibra essas energias todas e torna tudo tão interessante e familiar.

Passaram-se pouco mais de três anos desde o show do Marco Zero. Já estava quase conformada de que não veria nenhuma apresentação do Los Hermanos. Até que no início desse ano, Marcelo deu uma entrevista falando sobre a possibilidade de dois shows no nordeste, nada estava acertado, mas havia uma possibilidade de que acontecesse. Fiquei super ansiosa com a notícia. Se teriam dois shows no nordeste, um deles deveria ser em Recife, pensei logo. Não perderia novamente uma oportunidade dessas outra vez, não no Recife. Não havia o que discutir. Os meses foram passando, as possibilidades aumentando até que finalmente, Bruno anuncia em seu blog as datas e os locais dos shows. Recife estava incluída na agenda. E eu não exitaria em estar lá. Era o fechamento de um ciclo, eu precisava ir. A sensação era de que, indo, algumas coisas estariam finalmente concluídas. Eu tinha deixado de fazer algo e estava tendo a oportunidade de botar tudo em ordem.

Foram meses pensando, planejando, organizando a ida a esse show. Eu precisava ir de qualquer jeito, mesmo que fosse pra chegar em Recife na hora do show e sair de lá direto pro aeroporto, de volta pra casa. Eu iria, não importava o que isso iria me custar. Aos poucos, tudo foi se encaixando, se encaminhando pra dar certo. O ingresso que saiu na hora certa, o albergue e a carteirinha de alberguista chegando no momento exato, a amiga que topou todas as paradas, a passagem em promoção que saiu na última hora e mesmo assim, no momento certo, a justificativa pras faltas no trabalho que me preocupou até o último instante, tudo tão perfeito que eu não acreditei que aquilo estava acontecendo.

Agradecia a Deus todos os dias cada vez que acordava e via que estava perto, que estava dando certo, que era real. Mas, acho que não sei ser feliz, no dia do vôo, inventei de ter uma crise de responsabilidade e preocupação de última hora. No caminho pro aeroporto eu já estava completamente arrependida de estar ali, de ter colocado a minha melhor amiga naquela loucura toda, de ter largado o trabalho pra algo tão fútil, tão inconsequente e adolescente... Não tinha como desistir naquela altura da história. Encarei de frente o que estava por vir.

Chegar foi quase como sonho. Era estranho e ao mesmo tempo normal, familiar, estar ali. Nos apresentamos no albergue, guardamos nossas coisas, almoçamos e saímos pra ver melhor o lugar onde estávamos. em seguida, fomos até a praia. Ficamos paradas na frente do mar, sentindo o vento e, mais uma vez, eu quase não acreditei que aquilo era real. Lembro de dizer várias vezes que não sabia mesmo ser feliz. Como pode alguém se sentir culpado por estar vivendo aquilo que tanto quis e esperou? Eu me sentia culpada por estar sendo feliz, por fazer o que eu queria, como se à mim, coubesse apenas obedecer às imposições do trabalho, da casa, das pessoas. Vi nesse momento que essa pode ser a opção mais cômoda, mas não é a melhor. Bom mesmo é fazer o que se tem vontade, encarar de frente todos os desafios de se ter nas mãos as rédeas da própria vida.

Com o passar das horas, a culpa ainda existia, mas competia com o amor que sinto pelo Recife. E como era bom estar ali! Eu tentava relaxar e pensar que, já que eu estava lá, aquilo tudo tinha que valer a pena, tinha que ser bom e não seria diferente. Resolvi deixar a culpa pra quando chegasse em casa e tivesse que retomar tudo o que tinha deixado pra trás. Tentei aproveitar tudo o que surgiu, mas o foco era um só: o show.

Me arrumei e saí com minha amiga pelo Recife. A cabeça estava lá, com os hermanos onde quer que estivessem. Bebemos, andamos, vimos a cidade. Depois encontramos meu primo, que nos levou ao local do show. Chegando lá, senti que o chão desapareceu debaixo dos meus pés. Eu não conseguia acreditar que iria vê-los ali. E tinha tanta gente! Eu era só mais uma garota perdida naquela multidão, querendo ver (quem sabe, pela última vez) a sua banda favorita.

Pouco depois de entrar e quase ser esmagada pela multidão, as luzes se acenderam e eles começaram a tocar "O Vencedor". Não consigo muito bem me lembrar o que houve, só lembro que foi mágico. Eram as mesmas músicas que eu já ouvi tantas vezes, mas era uma surpresa cada música que começava. Eles tocaram só as que eu mais gosto! um privilégio ter visto Rodrigo cantando Sentimental, Retrato pra Iaiá e tantas outras. Marcelo cantou Pois é, música que faz parte da minha trilha sonora dos últimos meses. A sensação era de flutuar cada vez mais pro alto. A sensação só diminuía quando eu olhava pra minha amiga, que não aguentava aquela loucura toda. O que pra mim estava sendo mais que doce, pra ela era torturante. E não a recrimino por isso. O lugar estava lotado, apertado, quente, desconfortável. As pessoas, fora de si. E eu fiquei assim assim, como um balão tentando ganhar o espaço, mas tendo que brigar com alguém que insistia em puxar a corda pro balão não ir pra muito longe.

Meus poucos momentos de real lucidez foram esses em que eu olhava pra minha amiga, totalmente desesperada e só aí me dava conta do tormento que aquilo estava sendo pra todo mundo. Uns gritavam, outros pulavam, berravam as canções, choravam... tantos estranhos unidos pela mesma paixão por aquela banda, que já acabou há muito tempo, mas que ainda diz muito aos que a ouvem, coisa difícil de se encontrar nesses dias.

O show acabou, voltamos pro albergue e curtimos o Recife nos dias que se seguiram. Fiquei um pouco fora do ar durante alguns dias. Não podia acreditar que tinha realizado esse desejo quase antigo. Foi estranho, não estou acostumada com isso (eu realmente não sei ser feliz). Ficou uma sensação boa por tudo o que aconteceu. Faria tudo novamente, do mesmo jeito, quantas vezes fossem necessárias. Valeu a pena cada centavo gasto, cada segundo vivido. Poderia até pensar que foi tudo sonho. Mas foi a melhor das realidades do ano.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

troca de emails

Engraçado, quando chego de uma viagem, ou quando algo muito bom acontece na minha vida, sempre tem um idiota querendo estragar o que táperfeito. Pois bem, dessa vez foi assim:

verme:

Assistam esse vídeo do Malafaia e tirem suas conclusões, não é virus fiquem tranquilos!


eu (saturada depois de receber durante meses emails com conteúdos parecidos desse mesmo remetente):

Por favor, exclua esse endereço. Não escreva mais pra cá.


verme:

Me perdoe desviada, pode considerar excluído e bloqueado.
Boa semana.


eu (só pra irritar):

Obrigada, GRANDE exemplo de cristão.


verme (indignado):

Não por isso. Mas você, com o tempo de igreja que teve, sabe muito bem que EU NÃO SOU teu salvador, e como tal, não sou perfeito, e tenho coragem de assumir. Mas é melhor do que chutar o pau da barraca e sacanear como vc fez.
Sem contar a incrível soberba que vc adquiriu.

Diminua, filhota, pois a queda VAI ser grande.


eu (irritando e me divertindo muito com a situação):

Pra vc, eu deixo apenas um versinho, de meu tão querido Renato:
"Volta pro esgoto baby, e vê se alguém te quer".
MORRE!
E não precisa responder esse email.


verme (muito irritado):

Não esperaria nada de uma idólatra de um gay.
PS: Morre... ahh, realmente bem gay isso e muito interessante da sua parte me desejar a morte.
Desculpa por ter te chamado de desviada... afinal, não tem como se desviard e algo que na verdade nunca foi. Vc sempre foi uma "enrustida".
Fora que, esgoto é onde se encontra a sua moral (você tem isso?).
Idólatra de gente débil como renato só podia ser débil como ele.

eu (querendo ver até onde ele vai):

Débil é alguém como vc, que precisa sair de sua casa, ir pra outro estado, pra se esconder em uma religião e ser sustentado pela pela pobre da esposa que, sem saber o que fazia, se casou com um louco, imbecil, capaz de questionar a moral alheia mesmo tendo, num pseudo "momento de fraqueza", mantido relações sexuais (leia-se comido, trepado, fudido) a mãe do seu próprio amigo. Lembre-se de olhar seus próprios pecados antes de julgar os dos outros. Se aponto o seu agora é por vc ter apontado os meus antes e porque os meus são bem menores e menos vergonhosos que os seus (eu nunca comi a mãe de ninguém). Mas, pra mim isso é normal, eu não sou crente mesmo. Já vc, diz que é. Então, não envergonhe aqueles que, diferente de vc, são sinceros e justos. Um aviso: não responda, porque eu não vou ler. Já gastei tempo demais e palavras demais com esse verme imundo que você é.


verme (totalmente enfurecido e descontrolado):

Verme imundo é gente da sua laia, eu pelo menos tive coragem de assumir meus erros (os quais vc não conhece), diferente de vc que foi trepar com um cara em recife, sua vadia, e frescando com alguém que vc NUNCA mereceu.
E sim, eu me escondo numa religião, queria que eu me escondesse nas inutilidades de roqueirinhos idiotas?
Além do mais, vc nem sabe como estamos vivendo aqui sua mula, se soubesse não falaria besteira.
PS: nunca comi a mãe de amigo nenhum, acho que vc devia se informar melhor... mas o que eu posso esperar de uma vagabunda que vira totalmente as costas pra aquels que um dia foram seus amigos, com toda a arrogancia que uma cretina tem direito?


eu (morrendo de rir):

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
otário, vai pra igreja orar pra ver se vc consegue se perdoar por existir!


É esse tipo de gente que o mundo e principalmente as igrejas não precisam. Ficam ali, com seus ternos e suas poses de bons samaritanos cumprindo seus deveres, como se estivessem acima do bem e do mal por estarem dentro de uma igreja, mas são podres e mortos por dentro. Só sabem dar aquilo que não recebem: julgamentos, ordens, desprezos, ignorâcia, maldade. Acredito em Deus, acredito em seu filho. E é por acreditar em Jesus, em tudo que ele fez enquanto esteve aqui, que tenho certeza que não é de pessoas assim que Ele precisa. Não foi esse o exemplo que ele deixou. Não sou melhor do que ninguém, mas não sei ficar me escondendo em Deus pra assim, diferente do que ele fez ou faria, sair julgando as pessoas no primeiro aborrecimento que tivesse. Só posso dizer que isso foi ridículo. E foi bom, porque sei que quando eu quiser voltar a seguir uma religião, não farei algo parecido com o que esse verme aí fez. Apesar de todas as palavras ácidas e de toda a raiva que ele deve estar sentindo, nada disso me afetou. Pelo contrário, eu queria mesmo ver até onde ele ia. E vi. O que importa é que nada disso tira a paz que estou sentindo agora, coisa que ele nunca saberá o que é, porque nunca sentiu. Nem sabe o que está perdendo. E eu que pensava que as religiões libertavam. Eu me enganei...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Quem sabe...

Quem Sabe

Composição: Rodrigo Amarante

Quem sabe o que é ter e perder alguém
Quem sabe o que é ter e perder alguém
Quem sabe o que é ter e perder alguém
Sente a dor que senti
Quem sabe o que é ver quem se quer partir
E não ter pra onde ir

Faz tanta falta o teu amor, te esperar...
Não sei viver sem te ter
Não dá mais pra ser assim

Quem sabe o que é ter sem querer pra si
Não quer ver outro em mim
Não fala do que eu deveria ser
Pra ser alguém mais feliz

Faz tanta falta o teu amor e te esperar...
Não sei viver sem te ter
Não dá mais pra ser assim


E não dá mais mesmo, é ruim perder, deixar de ter, se afastar de alguém que você gosta e muito quer, mas tudo tem limite. E eu cheguei ao meu...

"Frankly dear I'm forced to give it up
Tried my hand and now I've had enough
Even though we have to say goodbye
Keep me in mind
Keep me in mind
Keep me in mind..."
(Rodrigo Amarante)