segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Volta às aulas. #3

Na hora da saída, apesar de todos os avisos para conferir o material e não deixar nada na sala, Fulaninha esqueceu sua garrafinha super chique, cara e cor de rosa em cima da mesa. Procurei por ela no pátio, mas não havia mais nenhum sinal dela. Guardei a garrafa em meu armário pra devolver no dia seguinte.

Assim que tocou o sinal de entrada, Fulaninha entra na sala e sua mãe me espera na porta com ar de poucos amigos.

- Pois não? A senhora quer falar comigo?
- Você pegou a garrafa de Fulaninha? Eu vim buscar.

Respirei fundo. Enquanto o ar entrava, pensava que aquela mulher desagradável na minha frente às sete e meia da manhã, dizendo com todas as palavras que eu tinha pego, tomado, roubado, ou sei lá o quê a garrafinha de sua filha, só poderia ser um pesadelo, certamente eu ainda estaria dormindo e tendo um sonho ruim.

Infelizmente estava enganada. Aquilo era real. Tentei manter a calma.

-Não, eu não PEGUEI a garrafinha de Fulaninha. Fulaninha, apesar de todos os meus avisos para VE-RI-FI-CAR os materiais antes da saída, ES-QUE-CEU sua garrafinha em cima da mesa. Eu simplesmente me dei ao trabalho de guardar pra lhe DE-VOL-VER hoje. E se a senhora me der licença, é o que eu pretendo fazer agora.
- ... (ainda de mau humor)

A mãe simplesmente virou e foi embora, sem dizer uma palavra sequer.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Demais.

“Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde.Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu. Mais você. Mais sorrisos, beijos e aquela rima grudada na boca. Eu quero nós. Mais nós. Grudados. Enrolados. Amarrados. Jogados no tapete da sala. Nós que não atam nem desatam. Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu. Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo. Quero seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais.”
(Caio Fernando Abreu)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

horário de verão.

Maldito horário de verão. Não fiz nada da minha vida durante o dia inteiro (a não ser trabalhar) e quando percebi, já eram nove e meia da noite. O início do ano é sempre complicado. Volto das férias muito mal acostumada com os horários, noites e dias, tão diferentes da minha rotina do resto do ano. Não tenho hora pra nada, comer, dormir, acordar, tudo acontece espontaneamente, é uma liberdade imensa. Quando a vida boa acaba, tenho que retomar minha velha rotina de fazer tudo sempre igual, levantar às seis horas da manhã, correr pra não perder o ônibus e encarar duas turmas lotadas por dia. No horário normal é mais fácil lidar com o cotidiano. Pelo menos eu tenho a impressão de que as coisas estão nos seus devidos lugares. É dia durante o dia e é noite durante a noite. Com o horário de verão, esses fenômenos são bruscamente alterados: o dia começa na total escuridão e a noite começa com muito sol, luz e calor. É difícil dormir ou acordar com essa confusão no tempo. Penso que esse seja o motivo pelo qual inícios e finais de ano sejam tão difíceis pra mim. Eu acabo ficando cansada demais por não conseguir me adaptar satisfatoriamente às mudanças nos horários. O que mais me deixa indignada é não ver a tão divulgada economia. Eu sempre vejo o contrário: gastamos muito mais energia (elétrica, física e emocional) durante o horário de verão. E ainda tem a sensação de tempo perdido. O dia é muito longo, pra uma noite que acaba sendo muito curta. De qualquer forma, é algo do qual não se pode fugir. Anualmente, durante quatro longos meses, ele chega alterando os ciclos. Agora ele está na iminência da partida, pra minha felicidade. Não vai deixar a mínima saudade. Sinto que as coisas vão entrar em ordem, pelo menos no que diz respeito ao tempo. Espero conseguir produzir mais e, quem sabe, recuperar as horas perdidas nos últimos meses. Pelo menos até que o maldito horário de verão resolva voltar, pra bagunçar os meus dias.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A insustentável leveza...

"Com as outras mulheres ele nunca dormia. (…) Portanto, qual não foi sua surpresa quando acordou com Tereza segurando firmemente sua mão! Olhou-a e custou a compreender o que estava acontecendo. Evocou as horas que tinham se passado e acreditou respirar o perfume de uma felicidade desconhecida. (…) Tomas pensava: deitar-se com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes, mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)”.

.Milan Kundera in A Insustentável Leveza do Ser .

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Se eu fosse...

Se eu fosse um mês, eu seria: Janeiro

Se eu fosse um dia da semana: Sábado
Se eu fosse uma hora do dia: 10:00
Se eu fosse um planeta ou astro: Saturno
Se eu fosse uma direção: Norte
Se eu fosse um móvel: cama
Se eu fosse um líquido: Suco de graviola

Se eu fosse um pecado: Preguiça

Se eu fosse uma pedra: Diamante
Se eu fosse uma árvore: Ipê-amarelo
Se eu fosse uma fruta: Laranja
Se eu fosse uma flor: Amor-perfeito
Se eu fosse um clima: Calor
Se eu fosse um elemento: Terra
Se eu fosse uma cor: Azul
Se eu fosse um bicho: Gato
Se eu fosse um som: o som do mar

Se eu fosse uma música: Retrato pra Iaiá - Los Hermanos
Se eu fosse um estilo musical: rock/ pop
Se eu fosse um sentimento: amizade
Se eu fosse um livro: A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera
Se eu fosse uma comida: Camarão ao alho e óleo
Se eu fosse um lugar: Recife
Se eu fosse um gosto: Agridoce
Se eu fosse um cheiro: Maresia
Se eu fosse uma palavra: Espera
Se eu fosse um verbo: Estar

Se eu fosse um objeto: Um livro
Se eu fosse uma parte do corpo: Mãos
Se eu fosse uma expressão facial: Careta
Se eu fosse um desenho animado: Sailor Moon
Se eu fosse um filme: Efeito Borboleta
Se eu fosse um número: 7
Se eu fosse uma estação: Verão

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

pensamentos.

Fico impressionada com a capacidade das pessoas de ignorarem coisas absurdas em nome de um sossego momentâneo. Elas preferem fingir que não estão vendo aquilo que está acontecendo debaixo de seus narizes, simplesmente pra não ter que encarar uma situação desagradável. Ignorar, omitir-se, fugir de aborrecimento, não é o correto, mas ainda é "aceitável". O que não dá pra tolerar é ver as pessoas mentindo, inventando histórias e justificativas pra camuflar a tal situação absurda. Será que conseguem dormir com tranquilidade? Ou será que no fundo, são atormentadas pelos fatos desagradáveis que eles fazem questão de empurrar pra debaixo do tapete?Não acredito que alguém possa conviver com as piores situações sem se aborrecer, sem se revoltar, sem tentar mudar alguma coisa. Durante anos fui ansiosa por guardar alguns problemas sérios pra mim mesma. Durante o dia, fingia que nada acontecia e, pra falar a verdade, nem lembrava das coisas dentro da minha cabeça. Mas à noite, tudo vinha com violência martelando os meus pensamentos e levando a minha tranquilidade e muitas noites de sono embora. Isso era horrível. Eu não dormia, eu não vivia e nunca resolvi nada. Depois de muito tempo zumbizando por aí, comecei a perceber que não poderia viver daquele jeito por muito tempo. Não era justo comigo viver rodeada de entulhos sentimentais. Não digo que hoje sou a pessoa mais saudável, psicologicamente falando, mas procuro resolver as coisas em vez de fugir delas. Tento dizer sempre o que eu penso, se gosto ou não. Procuro melhorar, mesmo não conseguindo, muitas vezes. Atualmente, não consigo seguir ignorando as coisas que me incomodam. Posso até não resolver nada, mas exerço pelo menos o meu direito de reclamar e mostrar pra todo mundo que eu não concordo com tudo o que acontece. Infelismente, as pessoas que vivem comigo não são assim. E isso é algo que vem me aborrecendo muito. Estou chegando ao ponto de evitar ficar em casa ou ficar trancada no meu quarto quando não tenho pra onde ir. Estou me isolando, eu sei, mas ainda prefiro evitar o aborrecimento. Não estou fugindo de nada, até porque já deixei claro que não concordo com as coisas que estão acontecendo e já tentei muitas vezes, em vão, fazer com que as coisas mudassem. O que eu percebo dentro disso tudo, é que as coisas por aqui não irão mudar. Não vou poder conviver nessa desordem por muito mais tempo. Estou tão cansada de tudo... Enfim, é hora de dar um outro rumo pra minha vida. Espero ter paciência pra fazer tudo do jeito certo (se é que existe um). Daqui pra frente é trabalho duro e foco. Não pretendo terminar a vida do mesmo modo conformado e acomodado que tem a minha família. Não mesmo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Volta às aulas. #2

Final da primeira semana de aulas, oração feita, mesas limpas, leitura da historinha do dia, conversinha fiada, hora de começar as tarefas do dia. Começo a explicar o que deveria ser feito. Todos atentos, fazendo as atividades propostas. De repente uma menina começa a chorar:

- Tiiii-iiiii-iiii-aaaaaaa... buaaaaaaaaaaaá....
- O que houve? Por que está chorando?
- É que eeeeeuuuuuu...... buaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaá......
- Se machucou? Está sentindo alguma dor?
- Nãaa-ãaaa-ãaaaaooooo.... E-e-e-e-u... BUAAAAAAAAAAAAÁ
- Então alguém fez alguma coisa com você?
- Também nãaaaaaaooooo...
- Meu bem, você precisa me dizer o que aconteceu, pra eu poder te ajudar!
- É q-q-que eu não sei fazer essa tareeeefa. BUAAAAAAAAAAAAAAÁ!!!!!!





Será que eu vou conseguir?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011